O que que é pior: perder o pai de repente numa acidente bizarro de avião ou com uma doença terminal em que você o vê a cada dia morrendo um pouquinho?
O que que é pior: perder o marido de um ataque cardíaco do nada ou ver ele de drogando e se matando por anos?
Essas são perguntas que não tem como responder. É claro que para a filha do doente terminal, ir perdendo o pai aos pouquinhos, sofrendo, é pior do que perder de uma vez. O contrário também é verdadeiro. Para a viúva do cardíaco é bem pior perder o marido de supetão do que ir “se acostumando” que ele vai embora.
A verdade é que a gente nunca se acostuma com a idéia de perder alguém. A perda, a saudade é sempre muito dolorida e não há medição para essa dor. Não tem como dizer “A minha dor é maior que a sua.” Isso não existe. O que difere é a forma como as pessoas lidam com esse dor. Algumas se afundam, bebem, fumam, engordam e vivem em função daquela dor. Outros escolhem outro alvo para jogar todos os sentimentos e se dedicam exaustivamente ao trabalho, ao filho ou a um novo amor. Outros endentem que tudo isso, por mais dolorido que seja, faz parte da vida e o que se tem a fazer é... move on.
Não devemos nos definir por uma dor. Cada um de nós tem muitos dentro de um só. Ninguém é apenas “aquele que perdeu um filho”, ou “aquela que ficou viúva nova”, ou “aquele que perdeu a esposa grávida.” Claro que essas desgraças vão mudar a pessoa, vai fazer parte da vida dela, mas há uma grande diferença entre isso e definir esse ser. Antes de qualquer outro fato essa pessoa tem um nome, pais, uma história. Depois de qualquer desgraça essa pessoa tem relações, desejos, gostos.
Somos todos multi e se definir por um único fato na vida é se reduzir, limitar, rebaixar. É deixar de olhar em volta e ver o tamanho do mundo ao nosso redor, o tamanho do universo ao redor desse mundo. É egoísta acreditar que se é especial por ter sofrido mais do que a maioria.
Não, você não é.
Um comentário:
Assim, não existe dor insuportável, ou limite, ou medida. Tudo verdade.
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