quinta-feira, 6 de novembro de 2008

História da'Lapa

A conversa era boa e os dois fingiam sobriedade. Parados estavam e parados ficaram. Não podia ficar na cara o quão tortos estavam. Papo vai, papo vem, mais uma caipirinha? Beleza! E mata rápido, tem hora.
Ok. Vam'bora.
Chuvia. Melhor ficar no canto perto da marquize.
Melhor nada. Vamos pra chuva!
Dia ótimo, como se divertiram! E o dia acabava naquela chuva caindo, lavando tudo. O sorriso vinha de dentro, não havia do que reclamar.
Cai para um lado, para o outro. Se encostam na parede. Melhor parar, se afastar, para decidir aonde iriam. Ela sorri. Ele provoca. Ela provaca.
Essa brincadeira era antiga. Mas uma dia acabaria deixando de ser só sacanagem.
Isso não era para tá acontecendo.
Isso não está acontecendo, é um sonho.
Tá é um sonho.
As luzes estavam disformes. O som era mal definido, ou pelo menos eles não prestavam ateção. Tinha um pouco de samba, um pouco de vozes. Alguns carros passando na rua, o som da chuva na telha do bar ao lado. As pessoas olhavam para os dois. Alguns achando graça, outros reprovando. A vontade era evidente. Mais perto, mais perto.
Se beijaram, se beijaram, beijaram.
Isso não tá acontecendo, né?
Não não tá.
Mais um beijo, e outro, outro. A chuva piorava. Ela caiu para o lado esbarrando numa mulher.
Desculpa!
Tudo bem, minha filha.
Risos, mais risos. Gargalhadas. Aquela cara de safado que só ele sabe fazer: desconfiado, com um sorriso de canto de boca.
Isso não vai prestar.
Vamos embora daqui?
Vamos.

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